Informatio
26(1), 2021, pp. 104-122
ISSN: 2301-1378
DOI: 10.35643/Info.26.1.6

Dossier temático: Ética de la Información


 

Pandemia e aspectos disfuncionais do regime de informação hegemônico

Pandemic and dysfunctional aspects of the hegemonic information regime

Aspectos pandémicos y disfuncionales del régimen de información hegemónico

 

Flavio Lofêgo Encarnaçãoa

Marco Schneiderb

Arthur Coelho Bezerrac

 

a Mestrando em Ciência da Informação no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ) e Professor da Universidade Federal do Acre (UFAC), Campus Universitário - BR 364, Km 04 - Distrito industrial CEP: 69.920-900 - Rio Branco - Acre, Brasil. ORCID: 0000-0003-4953-8277. Correo electrónico: flaviolofego@gmail.com.

b Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisador Titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Professor do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ), Rua Lauro Müller, 455, 4º. Andar. Botafogo. Rio de Janeiro-RJ. Brasil. CEP: 22290-160. Professor associado do departamento de Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Professor do Programa de Pós-graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC UFF). R. Prof. Lara Vilela, 126 - São Domingos, Niterói – RJ. Brasil. CEP: 24210-590. ORCID: 0000-0001-5053-9491. Correo electrónico: marcoschneider@ibictt.br.

c Doutor em Ciências Humanas (Sociologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisador Titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Professor do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI IBICT UFRJ). Rua Lauro Müller, 455, 4º. Andar. Botafogo. Rio de Janeiro-RJ. Brasil. CEP: 22290-160. ORCID: 0000-0001-5445-6263. Correo electrónico: arthurbezerra@ibict.br.

Resumo

A pandemia do coronavírus em 2020 proporciona condições excepcionais para a localização de erros de planejamento, inclusive as falhas no processo informacional que possibilitaram as condições de infodemia, aparentemente contraditórias em um tempo em que se atinge globalmente o consenso, unificante de visões de mundo historicamente díspares, da contaminação viral como verdade. A partir da localização de processos informacionais disfuncionais em termos de comunicação da verdade, o artigo propõe o reconhecimento de padrões culturais atuantes nas práticas irresponsáveis de transformação da natureza e de comunicação deliberadamente deceptiva, vulnerabilizantes das condições de vida.

Palavras-chave: INFODEMIA; DESINFORMAÇÃO; REGIME DE INFORMAÇÃO HEGEMÔNICO.

Abstract

The 2020 coronavirus pandemic brings exceptional conditions for locating past planning mistakes, including informational failures that made possible the infodemic condition, apparently contradictory while we globally reach consensus, unifying historically aparted visions of the world, about the viral contamination as true. From locating dysfunctional informational processes in terms of truth communication, the article proposes the recognition of cultural patterns for both the irresponsible transformation of nature and deliberate deceptive communication that make vulnerable life conditions.

Keywords: INFODEMICS; DISINFORMATION; HEGEMONIC INFORMATION REGIME.

Resumen

La pandemia de coronavirus en 2020 proporciona condiciones excepcionales para la localización de errores de planeamiento, incluyendo fallas en el proceso informacional que posibilitó las condiciones de la infodemia, aparentemente contradictorias en un momento en que se alcanza un consenso global, unificando visiones del mundo históricamente dispares, de contaminación viral como verdad. A partir de la localización de procesos informativos disfuncionales en términos de comunicación de la verdad, el artículo propone el reconocimiento de patrones culturales activos en prácticas irresponsables de transformación de naturaleza y de comunicación deliberadamente engañosa, que hacen más vulnerables las condiciones de vida.

Palabras clave: INFODEMIA; DESINFORMACIÓN; RÉGIMEN DE INFORMACIÓN HEGEMÓNICA.

Received: 20/08/2020
Accepted: 02/05/2021

1. Introdução

Um neologismo cunhado em 2003 (MERRIAM-WEBSTER, 2020) vem se tornando especialmente significativo em tempos de Covid-19, sendo utilizado inclusive em comunicações oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial de Saúde (OMS): infodemia (ONU, 2020; OMS, 2020; RICHTEL, 2020; ZAROCOSTAS, 2020). Segundo a OMS,

Uma infodemia é uma superabundância de informações, algumas precisas e outras não, que faz com que seja difícil para as pessoas distinguir as fontes e orientações confiáveis quando necessário. Isso representa um sério problema para saúde pública, uma vez que as pessoas precisam dessa orientação para saber quais ações tomar para se proteger e aos outros, ajudando a mitigar o impacto de uma doença. No contexto da pandemia do COVID-19, a infodemia é exacerbada pela escala global da emergência, e propagada pela maneira interconectada em que a informação é disseminada e consumida através das plataformas de mídias sociais e outros canais. Enquanto a infodemia é um dos principais desafios para resposta ao surto, também apresenta uma oportunidade para identificar e adaptar novas ferramentas de prevenção e reação. (2020, pp. 2) [*]

Hoje, diante da pandemia em curso, ao que tudo indica não há no planeta uma só nação, religião, cultura ou instituição que conteste a existência do vírus, mesmo que haja divergências sobre como lidar com ele. Tal consenso tão amplo, unificante de visões de mundo historicamente díspares, talvez nunca antes tenha sido atingido, o que é espantoso se assumirmos que nenhuma cosmologia religiosa tradicional jamais incluiu a existência de seres microscópicos contagiantes. Diante de tal novidade, que poderia ampliar de maneira igualmente inédita nossas possibilidades de reação à pandemia, sofremos o efeito de uma falha facilmente localizável: a disfunção sistêmica dos processos informacionais que a associação entre as palavras informação e epidemia pretende definir. A facilidade da localização de um erro não implica necessariamente na simplicidade de sua análise, mas limita e facilita as possibilidades lógicas de sua abordagem teórica inicial. No caso da pandemia em curso, exatamente por essa característica dos erros obviamente localizáveis, torna-se possível encontrar um ponto de partida, um chão para pisar.

Poderíamos ter prevenido a pandemia simplesmente aplicando os conhecimentos e procedimentos que erradicaram outras epidemias virais, como, por exemplo, a varíola. Avisos não faltaram. Uma clara previsão da pandemia pode ser encontrada em um vídeo que circula desde o ano 2006 na internet, visto por milhões e legendado em pelo menos 27 línguas, de uma das primeiras palestras do formato Ted Talks, com o epidemiologista Dr. Larry Brilliant, justamente um dos responsáveis pela erradicação global da varíola. Ele adverte, nessa palestra, para o perigo da situação exata que viemos a experimentar em 2020, e indica, já em 2006, os caminhos que finalmente tornaram-se as políticas públicas mais bem-sucedidas no combate ao vírus:

Vamos considerar, por exemplo, que o primeiro caso ocorra no Sul da Ásia. Inicialmente vai acontecer devagar. Você tem duas ou três localidades discretas. Então surtos secundários vão acontecer, e a doença se espalhará de país a país, tão rápido que você não vai saber o que te atingiu. Em três semanas vai estar em todos os lugares do mundo. Nesse momento, se nós tivéssemos um botão “desfazer” e pudéssemos voltar e isolar e conter isso bem no começo – se pudéssemos ter achado isso cedo, e tido detecção e resposta precoce, e pudéssemos colocar cada um daqueles vírus na prisão – essa é a única maneira de lidar com algo como uma pandemia. (BRILLIANT, 2006, 15:14) [*]

Estamos perdendo uma guerra que poderia ter sido encerrada nas primeiras batalhas. Em contradição com a facilidade do consenso sobre a existência da vida microscópica, a impossibilidade de cooperação parece ser devida à disfunção infodêmica. A situação corrente, de uma infecção causada por um ser sem cérebro derrotando humanos inteligentes e conscientes, inclusive, da existência do vírus, demanda a investigação sobre as vulnerabilidades determinantes nos regimes de informação em vigor, entendidos como os modos de produção informacional dominantes em nossa sociedade que conformam sujeitos, instituições, autoridades, regras, arranjos organizacionais, recursos e dispositivos de processamento, preservação e distribuição da informação (GONZALEZ DE GÓMEZ, 2002, p. 34). Está provado, pela comparação entre os custos, inclusive humanos, da pandemia em curso e das evidentes medidas de prevenção que não foram tomadas, que tais vulnerabilidades inerentes aos regimes de informação contemporâneos são uma ameaça ao bem-estar da humanidade. O desenvolvimento atual das formas de cooperação em grandes contingentes está aquém das necessidades de proteção das condições que permitem nossa sobrevivência. Qual o motivo de não ter sido levado a sério o aviso de um dos mais renomados epidemiologistas do planeta, por exemplo?

Diante disso, pensamos em outros sérios avisos que teriam sido ignorados por motivos semelhantes. Somos vítimas de uma pandemia enquanto o planeta aquece e os efeitos e a velocidade desse aquecimento são mais severos do que podíamos prever, possivelmente incluindo as condições para disseminação de vírus. Extinções em massa, queimadas, desertificações, e, ainda, o derretimento de áreas congeladas promete liberar mais uma quantidade incrível de vírus pré-históricos e de metano na atmosfera. Como pudemos ter ignorado os abundantes avisos de que chegaríamos a isso?

Há alguns anos, imaginávamos a salvação pelas tecnologias, da mesma forma que hoje a imaginamos pela vacina. Estamos agindo coletivamente a partir de previsões equivocadas, em procedimentos que devem ser corrigidos. Claro está que os regimes de informação vigentes foram contaminados por desinformação, mas a situação de endemia dessa disfunção necessita ser compreendida, a partir de dois elementos fundamentais para as possibilidades efetivas de combate: a mentira deliberada e as novas mediações sociotécnicas implicadas em sua propagação.

2. Objetivos e Metodologia

A um tempo em que os pesquisadores de todo o planeta são chamados a aprimorar seu engenho e unir forças na busca de saídas para a pandemia, é também tarefa dos investigadores da informação ter o mesmo empenho em evitar novas situações, reconstituindo os erros que impossibilitaram a prevenção, buscando os motivos da falha, e propondo expedientes mais apropriados para que doravante possamos discernir quais avisos seguir.

Olhando para o passado com atenção, e com o conhecimento das relações entre regimes de informação e tomada de decisões, talvez tenhamos a chance de compreender melhor o processo histórico de difusão da mentira e solapamento da evidência científica que nos fizeram, como sociedade, tomar as decisões erradas que nos trazem ao momento atual da pandemia. Ao localizar condicionamentos que nos predispuseram à mentira, possibilitamos que a consciência das falhas possa incrementar nossas probabilidades de acesso à verdade.

O filósofo francês Alain Badiou (2002) propõe uma radical renovação da categoria de Verdade, que estaria «inteiramente em seu ato: a apreensão das verdades, operação pela qual a filosofia muda nosso tempo, concebido como tempo das verdades de que somos capazes (...)». Tal conceito deve obedecer a precondições, como aspirar à universalidade, e estar necessariamente ligada a um evento, «e não unicamente a um exercício de julgamento» (BADIOU, 2002, p. 18). Diante da irracionalidade potencial dos nossos processos de entendimento e da possibilidade de manipulação externa, o esteio firme de um evento parece ser útil na gestão da verdade.

Hoje, diante da verdade do evento pandêmico, vivemos ainda dinâmicas anteriores à mudança do eixo da verdade. A estrutura de dominação da natureza e também das consciências do capitalismo contemporâneo pode, finalmente, ser considerada equivocada, causadora e ampliadora de vulnerabilidades que são globais e ameaçam a vida no planeta, entre elas a do entendimento. Não podemos confrontar com eficácia ameaças enquanto circulam tantas visões conflitantes sobre efeitos, causas e possibilidades de combate, se não temos consciência sobre os processos vulnerabilizantes e sua prevenção – e isso não acontecerá sem a deslegitimação das narrativas embusteiras.

Esse combate atualiza um debate que atravessa toda a história centenária dos estudos em Comunicação Social (CS), tendo mais recentemente começado a chamar a atenção da Ciência da Informação (CI).

Uma das principais marcas dos estudos em CS é uma espécie de movimento pendular irregular, entre o que poderíamos genericamente definir como os polos da manipulação e da resistência. Dissemos movimento irregular, pois o primeiro polo exerceu com mais frequência uma atração gravitacional superior ao último em um século de estudos, principalmente na sua primeira metade. E se ao longo das últimas quatro ou cinco décadas houve um equilíbrio maior, devido à crescente influência da noção de recepção ativa, oriunda dos Estudos Culturais, um conjunto de fenômenos sociotécnicos mais recente tem feito o polo da manipulação voltar a ter força nos estudos de CS – assim como começou a chamar mais atenção da CI –, enriquecido das contribuições do polo oposto.

Em outras palavras, a ideia de que os meios de comunicação de massa (MCM) teriam um imenso poder de influenciar a sociedade dominou os estudos de CS na maior parte do tempo, seja no campo das teorias tradicionais ou administrativas, do tipo positivista, seja no das teorias de inspiração crítica. Assim, sumariamente, temos, no primeiro grupo, originalmente as teorias denominadas: hipodérmica; do fluxo de comunicação em duas etapas; e da persuasão. No segundo grupo, a teoria crítica dos pesquisadores identificados como da Escola de Frankfurt e a economia política da comunicação (WOLF, 1995; MATTELART, MATTELART, 2008). Apesar das diferenças e nuances entre as diversas abordagens, cuja explanação mais detalhada extrapola os objetivos deste trabalho, a nota principal é a percepção de que os MCM – imprensa, cinema, radiodifusão – têm um poder imenso de mobilizar corações e mentes.

Porém, já nas primeiras décadas de sua maturação, dentro das teorias administrativas percebeu-se uma gradual inflexão rumo ao polo oposto. Se a teoria hipodérmica preconizava que os MCM atingiam todos os indivíduos de maneira igual, com um poder total de manipulação, estudos posteriores, de base empírica, demonstraram que essa influência podia ser bastante grande, mas não total, tampouco homogênea, devido à mediação de fatores sociais e psicológicos, com destaque para a figura dos líderes de opinião, indivíduos que atuariam como autoridades cognitivas para diversos grupos sociais, cuja atuação reforçaria ou, pelo contrário, enfraqueceria a influência dos MCM nesses grupos. Na sequência desses estudos, voltados originalmente para campanhas eleitorais nos EUA, nos anos 1920 e 1930, estudos do tipo psicológico experimental fortaleceram a hipótese de que um conjunto maior de mediações atuava na relação entre MCM e receptores, até que os chamados estudos sobre usos e gratificações deslocaram a questão de fundo, fortalecendo pela primeira vez o polo que denominamos genericamente como da resistência: a pergunta deixou de ser o que os meios faziam com as pessoas, passando a ser o que as pessoas faziam com os meios.

No âmbito das teorias críticas, embora partindo de uma outra orientação epistemológica e empregando um instrumental teórico distinto, a nota principal da crítica à indústria cultural era seu poder de mistificação das massas, que traz consigo a noção de engodo deliberado, com a célebre exceção de Walter Benjamin (1996), que argumentou que as mesmas massas que demonstravam uma atitude reacionária diante de um Picasso, tinham uma atitude revolucionária diante de Chaplin. A partir dos anos 1970, os Estudos Culturais britânicos, seguidos pelos americanos e latino-americanos, desenvolveram a noção de recepção ativa, articulando estudos de letras e linguística, psicanálise, semiótica e o método etnográfico. Chegamos aí ao extremo oposto do polo da manipulação: o sentido do discurso só se completa no momento da recepção, que de elemento passivo converte-se em agente, coprodutor de sentido.

Em um setor por assim dizer intermediário entre as teorias administrativas e as teorias críticas, teríamos ainda as noções de agenda setting, espiral do silêncio e newsmaking, as primeiras mais próximas ao polo da manipulação, a última ao outro. Muito resumidamente, a hipótese de agenda setting postula que a mídia não tem o poder de formar a opinião das pessoas, mas sim de estabelecer a pauta do debate público; para a teoria da espiral do silêncio, o fato da mídia pautar o debate, favorecendo determinadas tomadas de posição, faz com que as vozes divergentes tendam a se calar; a terceira, de base etnográfica, busca explicar a dinâmica da imprensa em termos das rotinas produtivas, que explicariam com mais acuidade o viés da produção noticiosa do que teorias sociais de pretensões mais totalizantes.

A CI, tradicionalmente menos ocupada com os MCM, teria dado pouca ou nenhuma atenção a essas questões. Schrader (1986) contabilizou 134 definições de informação no campo da CI, mas pouco encontrou sobre o problema da desinformação. Esse quadro tem mudado na última década (BRITO, PINHEIRO, 2015; FROEHLICH, 2017, 2019, 2020; BRISOLA, BEZERRA, 2018). Trabalhamos aqui com a hipótese de que essa mudança se deve a mutações no complexo sociotécnico infocomunicacional, que constituíram o atual regime de informação hegemônico, cujas características operativas e impacto social aproximam os campos e exigem sua atenção renovada. Estamos nos referindo às novas tecnologias digitais de informação e comunicação em si mesmas e ao modo como seu desenvolvimento e uso social tem sido o resultado de disputas entre diversos agentes sociais, com a vitória ao menos provisória de frações do grande capital estadunidense.

A convergência tecnológica e empresarial viabilizada e favorecida pela crescente digitalização de quase todas as atividades humanas fez com a barreira tradicional entre preservação, organização e recuperação da informação, objetos de estudo privilegiados da CI, e a difusão massiva da informação, tema central da CS, se tornasse cada vez mais porosa, até que uma zona comum de práticas e estudos passasse a se constituir e fortalecer. Em termos epistêmicos, essa zona envolve principalmente os estudos de mediação da informação e a economia política da informação, da comunicação e da cultura.

O presente trabalho situa-se, assim, nessa zona comum, interdisciplinar, em termos epistêmicos. Metodologicamente, é uma pesquisa teórica, qualitativa, de base bibliográfica e documental, de caráter ensaístico, fundamentada na tradição das teorias críticas, que implica na explicitação de sua recusa à noção de neutralidade axiológica como uma quimera, e ao mesmo tempo de sua tomada de posição no debate epistemológico, teórico e ético-político contemporâneo. Segundo tal perspectiva, essa explicitação não compromete a objetividade científica, somente estabelece sua posição relativa em um debate simultaneamente epistemológico, teórico e ético-político, condição de objetividade para pesquisas que não se posicionam ilusoriamente fora do debate, numa perspectiva transcendental, mas, pelo contrário, que operam numa perspectiva imanente, a partir do polo em que se encontram da disputa de narrativas, deslocando a transcendência do espaço ideal do observador desinteressado para o tempo, para a história, para a possibilidade de mudança, mediante o entendimento e a atualização das potências disruptivas latentes do presente.

3. Resultados

Os cerca de 120 anos que nos separam do lançamento de A Interpretação dos Sonhos, de Freud, ainda não disseminaram totalmente a ideia de que nossas decisões podem resultar de processos irracionais e inconscientes. Tal conclusão é operacionalizada em diversas atividades humanas nos dias de hoje, além da psicanálise – pensemos apenas na publicidade e no universo de atividades que nela baseia sua economia (CHOMSKY, HERMAN, 1988). A industrialização do convencimento sub-reptício, que apela para desejos e medos irracionais, parte desse conhecimento, e o esboço de uma historiografia da utilização desses processos para difusão da mentira em circuitos de comunicação de massa, dada a novidade relativa desse processo, talvez ajude a entender a infodemia justamente em seu nascimento e epicentro: os Estados Unidos da América (EUA).

A mentira sendo usada de maneira generalizada e metódica como instrumento de dominação não é nenhuma novidade, sendo uma arma inestimável em tempos de guerra. A novidade foi a utilização das estratégias de guerra em tempos de paz, para enganar consumidores e eleitores. Um personagem relevante para a busca dessa origem foi o sobrinho de Sigmund Freud, residente nos EUA desde a infância, Edward L. Bernays.

A tendência da teoria freudiana para a acomodação das rebeldias na adaptação aos mecanismos socioculturais de controle dos impulsos humanos talvez possa ser identificada já em sua origem, mas foram Bernays e Anna Freud, filha do psicanalista, os responsáveis tanto pelo sucesso na difusão das obras de Sigmund nos EUA (Bernays era seu agente) quanto pela exacerbação dessa tendência com adaptações objetivamente dedicadas ao controle de indivíduos ou grupos. Anna dedicou a vida à divulgação da obra de seu pai, enquanto atendia pacientes em sua clínica privada para tentar evitar, entre outras coisas, o desenvolvimento de tendências homossexuais (CURTIS, 2002, 1’09:58).

Já Bernays, hoje considerado o «Pai das Relações Públicas», mas também conhecido como «Pai da Propaganda», ou até mesmo «Pai do Consumismo», torna-se relevante para nossa abordagem já na I Guerra Mundial, quando integra o United States Comittee of Public Information, órgão de propaganda do governo estadunidense, encarregado da censura usual em tempos de guerra, mas também da «engenharia do consentimento» público (BERNAYS, 1959). Após a guerra, Bernays adapta para tempos de paz, e para controle da opinião pública com fins comerciais e políticos, os conhecimentos freudianos do funcionamento dos mecanismos inconscientes, postos em prática na propaganda de guerra. (TYE, 1998)

O direito à liberdade de expressão e seu corolário democrático, uma imprensa livre, expandiram tacitamente nossa Declaração de Direitos para incluir o direito à persuasão. Esse desenvolvimento foi um resultado inevitável da expansão dos meios de livre expressão e persuasão (...). Todos esses meios provêm portas abertas para a mente do público. Qualquer um de nós, através de tais meios poderia influenciar as atitudes e ações de nossos concidadãos. (BERNAYS, 1959, pg. 113) [*]

Um registro histórico que apresenta a precondição anunciada para a presente investigação, de um erro historicamente evidente, e também a revelação de uma estratégia que é ainda o paradigma dos embustes massivos operacionalizados por grandes grupos econômicos, pode ser encontrado ao analisarmos o Master Settlement Agreement (MSA), o grande acordo da Justiça dos Estados Unidos contra as chamadas Big Tobacco, grandes indústrias produtoras de tabaco, que juntou em 1998 os processos legais em diversos estados e mudou a face do controle da atividade dessas indústrias nos EUA, estabelecendo definitivamente a conexão entre tabaco e doenças, e trazendo à luz todas as manobras historicamente levadas a cabo (e confessadas em juízo por alguns de seus gestores) para impedir a circulação da verdade que, comprovadamente, as empresas conheciam. Durante décadas os malefícios do tabagismo foram denunciados por cientistas, mas os procedimentos adotados pela indústria adiaram eficientemente por todo esse tempo a consciência pública dos fatos. (BATES, ROWELL, 1998).
Comprovados cientificamente os malefícios do fumo, inicia-se uma campanha de agnotologia [**] :

No final de 1953 a indústria do tabaco enfrentou uma crise de proporções cataclísmicas. O tabagismo tinha sido categoricamente relacionado ao dramático crescimento nos casos de câncer nos pulmões (...) e outras sérias doenças respiratórias e cardíacas, levando à morte. Essas descobertas apareceram nas grandes publicações de medicina, revisadas por pares, e também na mídia em geral. Como resultado, a indústria do tabaco lançaria uma nova estratégia, sem qualquer precedente na história da indústria e dos negócios nos EUA: ela trabalharia para erodir, confundir e condenar a própria ciência que passava a ameaçar destruir seu produto premiado, altamente popular e exclusivo. (BRANDT, 2012) [*]

Campanhas para controle de opinião pública e custeio de pesquisas pseudocientíficas favoráveis foram reveladas como atividades fundamentais para a manutenção do embuste, com a aberta confissão, surgida durante o MSA, das mentiras e procedimentos utilizados para influenciar multidões a agirem contra os interesses de sua própria saúde. As mesmas estratégias parecem estar sendo amplamente utilizadas atualmente, marcadamente pelas indústrias açucareira, de alimentos processados ou transgênicos (BROWNELL, WARNER, 2009).

Anteriormente à crise de 1953, um dos mais importantes estrategistas da disseminação industrial da mentira para as Big Tobacco, que depois tornar-se-ia o procedimento padrão revelado pelo MSA, foi justamente Edward Bernays. Contratado pela Big Tobacco para eliminar o tabu do tabagismo feminino, Bernays celebrizou-se pela famosa ação de marketing da Parada de Páscoa da Quinta Avenida, em Nova Iorque, no ano de 1929. Anunciando para imprensa, de maneira dissimulada, uma ação denominada «tochas da liberdade» e associando tal ação com o crescente movimento pela autonomia das mulheres, ele recrutou lindas debutantes para fumarem em público como um ato de empoderamento, transformando o significado fálico inconsciente do ato. Em pouco tempo, as mulheres igualariam os homens em número de fumantes e de casos de câncer nos pulmões.

Outra famosa aventura de Bernays foi a criação de um falso órgão de notícias, o Middle America Information Bureau, destinado a veicular fake news para influenciar o povo estadunidense a apoiar a destituição de um governo democraticamente eleito na Guatemala. O presidente eleito daquele país questionava os interesses monopolistas da United Fruit Company, que contratara Bernays desde os anos 1940. Vitorioso em sua campanha, Bernays chega a seu objetivo e os EUA interferem diretamente para destituir o presidente Jacobo Árbenz Guzman, em 1954. Ainda vivo aos 100 anos de idade, Bernays pôde ver as mesmas estratégias sendo usadas para iludir o povo estadunidense durante a Guerra do Golfo, em 1994.

A estratégia utilizada por Bernays busca a deslegitimação das narrativas antagônicas aos interesses que defende, e a legitimação, através de ações coordenadas, da desinformação através de versões manipuladas, utilizando pseudociência ou pseudojornalismo para seus fins. (TYE, 1998)

Essa rede de comunicações, algumas vezes duplicadas, entrecruzadas e sobrepostas, é uma condição de fato, não teoria. Nós precisamos reconhecer a significância da comunicação moderna não apenas como uma rede mecânica altamente organizada, mas como uma força potencial para o bem social, ou para um possível mal. Nós podemos determinar o emprego desse trabalho em rede para relevantes finalidades sociais. (BERNAYS, 1959, p. 114) [*]

A carreira de Relações Públicas (RP), idealizada por Bernays, tornou-se indispensável para a gestão da comunicação de pessoas e instituições de destaque. Desde 1944 o Prêmio Bigorna de Prata (Silver Anvil), que segundo a sua entidade organizadora, a Public Relations Society of America (PRSA), «simboliza o forjamento da opinião pública», é «oferecido a cada ano a organizações que abordaram com sucesso questões desafiadoras com habilidade, criatividade e inventividade profissionais» (PRSA, 2020) [*], como as indústrias poluidoras ou insalubres, que tantas vezes foram suas ganhadoras. Muitas das campanhas de RP premiadas por terem forjado competentemente a opinião pública tornaram-se posteriormente perdedoras de ações legais, por mentirosas, como por exemplo a indústria do açúcar (TAUBES, COUZENS, 2012).

4. Discussão

Alguns avisos, comparáveis ao do Dr. Brilliant sobre a pandemia e igualmente surgidos nos EUA, poderiam ter sido ouvidos e ter evitado algumas das tragédias em curso. Tais avisos se aplicam diretamente aos padrões que poluíram e poluem o planeta, mas talvez possam ser aplicados à comunicação.

O poeta e ativista estadunidense Wendell Berry publicou em 1977 um livro que continua atual, com reedições constantes e traduções em diversas línguas: The Unsettling of America: culture and agriculture. Nessa obra, Berry denuncia o modus operandi da sociedade de consumo como irresponsável, por restritivo de direitos coletivos, em especial em relação à saúde: poluição, empobrecimento dos solos, envenenamento das águas, devastação do meio-ambiente etc. Em 2002, em um artigo sobre os 25 anos de publicação do livro, ele mostra que os problemas denunciados se agravaram radicalmente no período, com o crescimento do agronegócio monopolista e monocultor, e a promissora tentativa, ainda em curso, de estabelecimento de uma ditadura alimentar baseada nas plantas e animais geneticamente modificados, remoção de populações das áreas rurais e industrialização do trabalho. O sonho que move seu ativismo parece simples: «a esperança de que nós podemos nos tornar um povo saudável numa terra saudável» [*] (BERRY, 2002). No artigo mencionado, o autor retoma uma dicotomia já explorada nessa e em outras obras, entre o que denomina industrialismo e agrarianismo. O agrarianismo de Wendell Berry defende uma determinada atitude em relação ao trabalho humano de modificar a natureza, que define como «solucionamento por padrão» («solving for pattern»). Para ele, o modelo industrialista vê tudo como máquina, e ignora os seus graves efeitos colaterais.

O que nos propusemos a defender é a complexa realização de conhecimento, memória cultural, habilidade, autodidatismo, bom senso e decência fundamental – a alta e indispensável arte – para que provavelmente não encontraríamos um nome melhor do que “boa agricultura”. Eu digo agricultura como definida pelo agrarianismo em oposição à agricultura definida pelo industrialismo: o apropriado uso e cuidado de um bem imensurável. (BERRY, 2002) [*]

A atualidade dos escritos dos anos 1970 de Wendell Berry e a precisão de suas previsões de deterioração das condições de vida, diante do erro de planejamento evidenciado pela crise ambiental em curso, de alguma maneira facilitam a orientação para mudanças, mesmo aquelas que deveriam ter acontecido já há muito tempo.

Muito antes disso, em 1900, Henry Adams pôde oferecer uma reflexão precoce sobre a relação com a tecnologia, antecipando de alguma maneira a oposição explicitada por Wendell Berry, em uma obra autobiográfica escrita na terceira pessoa, The Education of Henry Adams. Adams viveu em uma época de grandes mudanças, e em seu livro se propõe a uma espécie de autoeducação, em que ele reflete sobre a Segunda Revolução Industrial a partir do que seria seu símbolo máximo, o dínamo. No interessantíssimo capítulo chamado O Dínamo e a Virgem ele descreve sua visita a uma grande exposição de tecnologia, onde, fascinado com o poder das máquinas, se surpreende com a ausência da coisa mais poderosa do universo segundo ele: o útero materno, representado pela figura da Virgem, o princípio da geração a vida. Hoje, mais de um século depois, talvez possamos aceitar com mais facilidade a representação do industrialismo como algo antagônico ao princípio da vida, ou pelo menos alheio aos determinantes éticos de sua preservação. No tempo de reconhecermos erros patentes e recuperarmos proposições do passado que poderiam ter prevenido tais erros, temos que assumir os comportamentos industrialistas inconsequentes e a necessidade de amplas mudanças políticas para limitação das diferenças de direitos sociais e econômicos entre humanos, associadas à necessidade ética de preservação da vida no planeta.

5. Considerações Finais

A estrutura industrial de dominação da natureza e das consciências, diante das consequências, pode ser considerada equivocada, causadora de concentração de renda e ampliadora de vulnerabilidades que são globais, entre elas a do entendimento. Não podemos combater um vírus enquanto circulam tantas visões conflitantes sobre o que o vírus e a pandemia representam em termos de efeitos, causas e possibilidades de combate, se não temos consciência sobre os processos de contaminação e prevenção – e isso não acontecerá sem a deslegitimação das narrativas embusteiras. A cegueira sobre os efeitos colaterais relacionados ao apartamento entre nossa espécie e o ambiente, e entre seres humanos, possibilitou essa vitória do vírus. Nos referimos aos sistemas apartados de saúde entre pobres e ricos, ou entre países, e também à degradação do ambiente causando a mudança nas condições climáticas que garantiram a estabilidade das formas de vida do planeta. A industrialização do consentimento nos expôs a erros, que devem ser revistos a partir da necessidade da defesa da saúde pública e da vida em geral.

É hora de arriscar a superação necessária, em um momento de grande confusão e dificuldade de comunicação. Para isso, propõe-se a exploração imaginativa de cenários em que a tecnologia é chamada ao auxílio da melhoria de condições de vida, com as potenciais modificações inconsequentes sendo evitadas por políticas e procedimentos como os recomendados por Wendell Berry. A indústria não é o problema, e sim a maneira industrialista, irresponsável, de gestão do bem comum. A diferença está nos parâmetros de gestão. A incorporação das contradições ao discurso sobre o desenvolvimento de estratégias para a melhoria da qualidade de vida é uma necessidade ética, se consideramos nossa espécie como potencialmente iludível. Nossa hipótese é de que a colaboração humana não precisa do embuste, e que a consciência das contradições permite a transformação.

Se transpusermos a lógica agrarianista proposta por Berry para a lida com a informação, devemos tratar a verdade como «um bem imensurável» (BERRY, 2002), que deve ser cultivado com cuidado extremo em nossas trocas informacionais. Nesse campo, o industrialismo informacional deve ser associado à «fabricação do consentimento» (manufacture of consent) investigado por Chomsky e Herman (1988), e o agrarianismo, à defesa da vida e ao cultivo da competência crítica em informação, conceito que abarca não apenas o aprofundamento teórico das perspectivas de avaliação crítica e uso ético da informação, mas também o compromisso prático de engajamento na luta contra as estruturas de poder que sustentam a produção e a disseminação dominante da informação, criando obstáculos à autonomia informacional e à emancipação social (cf. BEZERRA, 2019).

A luta é duríssima. Sempre foi. Mas para os autores deste trabalho, brasileiros que viveram o final da ditadura militar, e para aquelas e aqueles de sua geração que não se deixaram alienar, é certamente o momento mais duro, pois a luta parece perdida, a cada dia, diante da inacreditável avalanche, simultaneamente ridícula e aterradora, de descalabros e brutalidades informacionais que se avoluma numa régua gargantuesca, corolário do massacre de pessoas, bichos, plantas, direitos, razão e sonhos, que massacra o futuro.

Este trabalho é um diagnóstico e um alarme.

 

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Footnotes

[*] Tradução dos autores

[**] Agnotology é um neologismo cunhado por Robert Proctor, significando a produção social deliberada de ignorância, mediante o investimento em práticas desinformacionais conjugadas. O estudo das estratégias da indústria do tabaco nos EUA narradas aqui motivou os primeiros estudos em agnotology. Ver Proctor e Schienbinger (2008).

 

Author contribution

The authors of this manuscript prepared the entirety of it in equal parts.


Editor’s notes

The editor responsible for the publication of this article was Rafael Capurro.

Style editing and linguistic revision to the wording in this text  has been performed by Prof. Adj. Hugo E. Valanzano  (State University, Uruguay).

Nilzete Ferreira Gomes (Universidade Federal Rural da Amazõnia (UFRA), Pará, Brazil), was in charge of translating from Portuguese to Spanish.